terça-feira, 7 de setembro de 2010

O Encanto do Desencanto

Poema: Desencanto
Autor: Manuel Bandeira
Ano: 1912


“Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro se por agora
Não tens motivo algum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.”


Pode soar um tanto trágico iniciar esta experiência com uma obra tão melancólica, mas também não há poesia na tragédia? Na paixão não há pesar? Não são os momentos de angústia capazes de sorver de nossas almas as mais intensas sensações?

Em uma dicotomia de dor e volúpia são tecidos, de forma comovente, esses eloquentes versos que descrevem a criação poética como o ato derradeiro de lutar pela vida ao passo que nos sentimos esvaziados dela.

A essência pungente transcende o aspecto da forma, fica só a significação, a ânsia de nos servirmos plenamente das palavras, como se no ato de escrever como quem morre, estivesse o canto do encanto que nos faz viver para sempre.

Um comentário:

  1. Eu gosto do sabor do amargo, é um doce que deve ser melhor apreciado.
    Gosto de ler a melancolia, a gente reflete mais quando sente as palavras do que quando elas simplesmente passam por nossas vidas.
    Sendo assim, a gente deve escrever sempre como quem morre, para que não em vão passe as nossas palavras.

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