Poema: Aprendiz
Autor: Humberto Ak’abal
Ano: -
“Nesses ímpetos
me surge a vontade de escrever;
não porque saiba, senão
porque fazendo-o e desfazendo-o
é como aprendo esse ofício e,
por fim,
algo vai ficando em mim.
As encostas,
os morros,
os precipícios,
os velhos povoados
têm segredos encantadores,
daí o meu desejo de levá-los a passear
em folhas de papel.
Esse belo ofício tenho de tratá-lo
como supertarefa, ainda que me doa,
porque não conto com o tempo de que
gostaria.
(Devo trabalhar em outra coisa para sobreviver.)
Meus versos têm a umidade da chuva,
ou as lágrimas do sereno, e não podem
ser senão assim, porque foram trazidos da montanha.”
Em um exercício de liberdade e experimentação criativa, o poema propõe um passeio por palavras que nos chamam de volta à comunhão com o todo e com natureza.
E em um delicioso descompromisso com a forma, reencontramos a experiência viva da arte que temos impressa na alma, mas em ressonância com as exigências da vida cotidiana.
Dialogando êxtase e concretude, deslumbre e experiência, fascina, ao mesmo tempo em que conscientiza, e lembra quanto nos falta alcançar e compreender, afinal somos todos aprendizes.
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