quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Do Desencanto ao Alumbramento

Poema: Alumbramento
Autor: Manuel Bandeira
Ano: 1913


“Eu vi os céus! Eu vi os céus!
Oh, essa angélica brancura
Sem tristes pejos e sem véus!

Nem uma nuvem de amargura
Vem a alma desassossegar.
E sinto-a bela... e sinto-a pura...

Eu vi nevar! Eu vi nevar!
Oh, cristalizações da bruma
A amortalhar, a cintilar!

Eu vi o mar! Lírios de espuma
Vinham desabrochar à flor
Da água que o vento desapruma...

Eu vi a estrela do pastor...
Vi a licorne alvinitente!
Vi... vi o rastro do Senhor!...

E vi a Via-Láctea ardente...
Vi comunhões... capelas... véus...
Súbito... alucinadamente...

Vi carros triunfais... troféus...
Pérolas grandes como a lua...
Eu vi os céus! Eu vi os céus!

- Eu vi-a nua... toda nua!”


Subjugadas as aflições do Desencanto, é hora de ascender aos céus! Afinal, como reconheceríamos a beleza se não trilhássemos os obscuros caminhos da desilusão? E quanto mais valorosa é nossa jornada quando vencemos o medo e a dúvida...

A rígida estrutura formal do poema é um harmônico contraponto incapaz de encerrar a livre fluência de suas palavras, cada verso embriaga-nos, eleva-nos, revela-nos a vida toda nua.

E quando, de fato, enxergamos a vida, compreendemos que a sua beleza está na finitude e na possibilidade de a cada dia, renovarmos a esperança de viver o êxtase do alumbramento.

Um comentário:

  1. Nem uma nuvem de amargura
    Vem a alma desassossegar.
    E sinto-a bela... e sinto-a pura

    Estranho... não há medo, receio no que se procura, ninguem se preocupa, há pureza no ar, como se a vida nesse instante do poema fosse algo leve, imaculo...

    é pra pensar

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