terça-feira, 9 de novembro de 2010

Quase Soneto

Já vi os céus!
Mas não sei gritar nesse silêncio
Paciência: A ciência do agudo pesar
Fundo... Profundo...

Como gritar esse silêncio?
Fundo... Profundo
Calou minha canção, desfigurou-me a visão.
Agora ouço: “Abra seus olhos”

Nada reluz. Eu no escuro,
Procuro, só breu.
Eu só, só eu...

sábado, 2 de outubro de 2010

Até agora...

O contato com a Arte já é uma constante em minha vida há algum tempo, e embora essa experiência tenha sido intensificada depois da criação do blog, ainda sou uma criança com muito a aprender.

Estabelecer uma rotina organizou e desacelerou meu tempo, hoje tenho espaços reservados para sentir meus perfumes e refletir meu universo. Consigo enxergar, até mesmo as coisas cotidianas, de forma mais sensível e intensa.

Registrar sensações artísticas e estéticas contribuiu para que eu me libertasse, mesmo que parcialmente, do “ostracionismo” que involuntariamente me imponho. E como é bom compartilhar!

Profissionalmente, me sinto mais livre e segura para viver e criar experiências. Acredito mais tanto na minha arte, quanto na minha prática pedagógica, ambas estão mais maduras e reflexivas.

E não, mesmo com o fim do trabalho da pós-graduação não vou deixar de escrever, preciso dessas gotas de felicidade para voar...

Ainda Existe Arte?

Quando discutimos os rumos da arte, uma pergunta de fundamental importância é: ainda existe produção artística?

Vivemos a crise da “arte do conceito”, as discussões sobre definições artísticas tornaram-se um desafio até mesmo para os “especialistas” do assunto, “tudo pode” transformar-se em “arte”.

E se eu conceituar que “nada” é arte? Quem é você para dizer que não é? O que determina que o “achismo” de um é juízo e o de outro é prejuízo? A mídia, a crítica especializada? Eu posso continuar “achando nada” arte... quem tem poder sobre minha opinião? A mídia, a crítica especializada.

O Espetáculo da Vida do teatro e da televisão é arte, mas o Espetáculo da Vida da vida não é. Sendo assim, a arte amadora não é arte, porque só ama, não promove e não lucra. Quanto vou lucrar se puramente dançar? E se elevar-me, dilacerando-me sem nenhuma elevação?

A produção artística ainda caminha por aí solitária, à margem do reconhecimento, em algumas escolas, oficinas, teatros oficinas, que lutam contra a perversão transvestida de glória, e minguam a arte profissão em favor da arte vocação.

Talvez não devamos procurar palavras, talvez devamos simplesmente expressar, o gesto diz mais que mil palavras? Mais que mil sinceras palavras. A linguagem expressiva do corpo não limita, não oculta... Transmite a intensidade instintiva da comunicação, diz o indizível no silêncio da fala, auxiliada pelo ritmo e contra-ritmo da melodia. Dispensa a compreensão, para quê compreender a sensação?

Palavras de verdade plenamente comunicadas não precisam ser ditas, são propagadas pela leitura do olhar. E onde encontrar palavras de verdade? Até o Verbo se fez carne e da carne se fez lucro...

Dança Pura

Dança pura, puramente dança
Impulso que movimenta
Verdade que envolve
Essência e ação
Desejo e paixão

Dança pura, puramente dança
O instrumento entoado
Ritmo des equilibrado
Íntima inspiração
Intensa sensação

Dança pura, puramente dança
Deusa e troqueu
Jônio e Demônio
Luz e atração
Divina exaltação

Dança pura, puramente dança
Encantamento onírico
Fluxo de liberdade
Profunda expressão
Efêmera eternização

O Conceito de Forma

Artigo: Toda arte flutua num mar de palavras
Jornal: Folha de São Paulo – Ilustrada
Jornalista: Silas Martí
Data: 28/09/2010


"Acreditava que um artista devesse tentar fugir à tradição. Ser artista é fazer perguntas sobre o significado da arte e estar engajado na produção desses significados, essa deve ser a tarefa.”
Joseph Kosuth


O artista americano Joseph Kosuth, inventor da arte conceitual, repudia forma e mercado em nome das idéias. Segundo ele, os artistas formais parecem não entender às vezes que mesmo a forma pura tem significado, que não operam num vácuo, e por isso um trabalho formalista pode acabar virando uma decoração muito cara.

Contudo, o verdadeiro conceito é que a forma só deforma quando se conforma aos conformismos limítrofes. Quando não, pode alcançar o ideal, gerar discussão,  produzir sensação, tornar-se essencial  e significar.

Enfermidade da Arte

Artigo: Bienal sob censura e acusação de apologia ao terrorismo
Jornal: Folha.com – Ilustrada
Jornalista: Silas Martí
Data: 25/09/2010


"Não se pode fazer política na Bienal de política, talvez a Bienal devesse falar de decoração, seria mais sincero."
Roberto Jacoby


Duas obras já foram censuradas na Bienal deste ano, mas antes de discutir o teor político ou violento que reconhecemos nas criações de Roberto Jacoby e Gil Vicente, não deveríamos ponderar sobre o contexto que as argumentam?

Quanta violência pode incitar um autorretrato? Todos os dias não somos expostos à overdoses da mesma violência pelas novelas e telejornais?

É obvio que existem formas mais sutis, poéticas e até competentes para se expressar artisticamente, mas artistas enfermos são os reflexos de nossa sociedade medíocre.

A Denúncia das Imagens

Artigo: Harun Farocki, que está na Bienal, tem retrospectiva em SP
Jornal: Folha.com – Ilustrada
Jornalista: Silas Martí
Data: 18/09/2010


"Não são imagens, são informações dotadas de beleza não intencional nem calculada."
Narração de “Reconhecer e Perseguir” - Harun Farocki


O videoartista alemão Harun Farocki faz de sua extensa filmografia de quase cem títulos, uma dissecação da imagem. Além de estar na Bienal de São Paulo, ganhou retrospectiva no Cinusp e na Cinemateca.

Sua obra explora os mais diversos conflitos políticos que abrangem desde insurgências populares diante do discurso de um ditador, até executivos aprendendo a adequar linguagem corporal para vender melhor.

Farocki nos prova que é possível atingir o belo mesmo diante da dor, do medo, da opressão e da angústia, basta não se ocultar.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Êxodo

Artigo: Aniversário da Bienal terá Damien Hirst e Jeff Koons
Jornal: Folha.com – Ilustrada
Jornalista: Fabio Cypriano
Data: 10/09/2010


"Buscamos um museu que tivesse uma ótima coleção de arte contemporânea, pois a vocação da Bienal é apresentar o que acontece hoje."
Heitor Martins


Heitor Martins, presidente da Fundação Bienal, já iniciou os preparativos para festa dos 60 anos da Bienal de São Paulo, em 2011. A mostra ocorrerá entre outubro e dezembro de 2011 e contará com alguns dos artistas estelares da produção contemporânea, como o inglês Damien Hirst e os norte-americanos Jeff Koons e Matthew Barney.

Tudo seria melhor se esse não fosse o período que a 9ª Bienal de Arquitetura ocuparia. Segundo Rosana Ferrari, presidente da seção paulista do Instituto de Arquitetos do Brasil, há três meses tenta falar com Heitor, mas foi informada apenas por carta de que perdeu o espaço.

Mas contemporaneamente, o que importa é importar, e mesmo depois de tantos aniversários, o êxodo para a terra prometida ainda sofre crises que envolvem tiranos, bezerros, ouro e estrelas.

Cale-se!

Artigo: Selo ressuscita compactos para lançar novos artistas
Jornal: Folha.com – Ilustrada
Jornalista: Marcus Preto
Data: 01/09/2010


“A idéia é agregar de novo o valor de souvenir à música - arte que vem sendo cada vez mais desvinculada do objeto a partir da era do mp3. Música, paga ou gratuita, anda por si só e está sempre à mão do ouvinte. O vinil é algo palpável, que precisa ser comprado na loja. E isso acaba trazendo outro sentido ao ato da compra, da pesquisa, da audição.”
Rafael Ramos


Rafael Ramos, produtor e diretor artístico da gravadora Deckdisc, criou o selo Vigilante, que pretende reeditar e readaptar o conceito de compacto para os tempos atuais e em escala industrial.

Se hoje há algo que podemos comemorar é a liberdade que a arte pode alcançar quando utiliza os meios de comunicação em seu benefício. Muitos artistas abriram mão da materialidade em favor da democratização de sua obra.

Mas será que toda liberdade é passível de opressão? Todo clamor é passível de selo? Será que para ouvir, seremos submetidos ao silêncio diante das “coleçõezinhas de plástico”?

Inaugurando Significados

Artigo: Homem Objeto
Jornal: Folha de São Paulo – Ilustrada
Jornalista: Marcos Flamínio Peres
Data: 24/08/2010


“Eu me sinto ofendido quando entro em uma exposição e sinto que o artista quer me dizer aquilo que devo achar sobre sua obra.”
Waltercio Caldas


O artista brasileiro Waltercio Caldas defendendo uma poética radical, ataca o que chama de “populismo de vanguarda” e afirma que a principal característica de todo objeto de arte é que ele sempre surge para nós pela primeira vez. Seu trabalho que privilegia o objeto e aceita a palavra apenas como integração, nunca como descrição, tem como suporte fundamental a subjetividade.

A necessidade de oferta está ligada à de procura, e como “o cliente sempre tem razão”, no mercado da arte, como em qualquer outro, vende o que de alguma forma agrada, mas ainda nos resta a esperança da integridade.

Waltercio ao eleger a forma como elemento principal de sua arte, não cria objetos ocos, como os integrantes do “populismo de vanguarda”, tampouco considera apenas a exterioridade ou aparência estética. Pelo contrário, o artista presenteia o observador com a possibilidade de inaugurar sua obra e construir seus próprios significados.

Integração Exclusiva

Artigo: Editor fala sobre publicações de arte na era do iPad
Jornal: Folha.com – Ilustrada
Jornalista: Fernanda Mena
Data: 18/08/2010


“Antes, o editor de uma publicação desenhava como seria a experiência do leitor. Com a publicação digital, ele pode até sugerir uma maneira de olhar aquele conteúdo, mas haverá abertura para muitas outras possibilidades.”
Julius Wiedemann


O brasileiro Julius Wiedemann há dez anos trabalha na Editora Taschen e acredita que o futuro das publicações impressas está comprometido, mas quando o assunto é arte digital, os meios físicos são tradicionalmente valorizados, e a transferência dessa idéia para algo virtual ainda deve demorar um pouco para ser assimilada, reconhecida e valorizada.

Em mundo cada vez menor, a distância do essencial só cresce. O advento virtual com suas pretensões de globalização vive o paradoxo da integração exclusiva.

Temos acesso a todas grandes bibliotecas, mas não folheamos seus livros, podemos nos comunicar com pessoas de qualquer lugar do mundo, mas não as abraçamos.

Até o sexo virtual já foi sancionado, mas obra de arte não? O que nos conforta é que quando a única atividade intelectual reflexiva que nos restar for a televisão, o sinal será digital e de alta definição.

Sinto-me Múltipla

Exposição: Fernando Pessoa, Plural Como o Universo
Local: Museu da Língua Portuguesa
Período: De 24/08/2010 a 30/01/2011


A exposição reúne poemas impressos e projetados, fac-símiles de documentos, imagens de Fernando Pessoa e quadros de pintores portugueses, dispostos em labirintos que remetem às suas múltiplas personalidades.

O aparato tecnológico cria um ambiente extasiante, em uma experiência multissensorial somos envolvidos em palavras, poesias, luzes e canções. Dos muitos espaços interativos, o destaque, sem dúvida, é para a sala que projeta poemas em nosso corpo, ao mesmo tempo em que são refletidos por espelhos e narrados cadenciadamente por uma voz feminina.

Mais que a obra de um grande artista, a mostra nos permite evocar o imaterial, enquanto  nos  deliciamos no universo dos múltiplos, refletimos no indivisível, e nos elevamos ao clamor silencioso da pluralidade de suas palavras.

Ao Som do Din-Din

Exposição: 27ª Feira Internacional da Música - Expomusic 2010
Local: Expo Center Norte
Período: De 22/09/2010 a 26/09/2010


Neste ano, o evento mais significativo do segmento musical na América Latina, patrocinado pela Associação Brasileira da Música (Abemúsica) e realizado pela Francal Feiras, contou com duzentos expositores de instrumentos musicais, acessórios e iluminação e um público de mais de cinquenta mil pessoas.

Longe de ser um acontecimento artístico, embora assim se autodenomine, a feira abrigou apresentações musicais e workshops, que apesar das boas intenções, visavam, mais que qualquer outra coisa, promover os produtos dos expositores.

Contudo, quando conscientes dessa realidade, enfrentamos os lotados corredores do Expo Center Norte, podemos, além de desafiar nosso desejo de consumo, adquirir interessantes ferramentas para nossa prática artística.

A Bordo de Iole

Exposição: Iole de Freitas
Local: Pinacoteca do Estado de São Paulo
Período: De 24/07/2010 a 31/07/2011


A obra é composta por cinco placas translúcidas e retorcidas de policarbonato, suspensas por barras de aço que cruzam o primeiro e o segundo andares do museu.

A tensão estabelecida pela oposição da natureza dos materiais utilizados pela artista, a rigidez das barras de aço rendida à flexibilidade do policarbonato, repercute na relação do espaço da Pinacoteca com a instalação, a severa arquitetura rendida à sinuosidade da obra.

Através do trabalho descobrimos novas perspectivas, revisitamos o museu e estabelecemos novas experiências.  A bordo de iole navegamos, mais uma vez, pela imensidão de possibilidades do oceano da arte.

Entre Som e Luz

Exposição: A Soma dos Dias – Carlito Carvalhosa
Local: Pinacoteca do Estado de São Paulo
Período: De 31/07/2010 a 07/11/2010


O trabalho é uma instalação composta por fitas de alumínio que sustentam pedaços de tecidos brancos que envolvem todo o espaço central do museu. O título da obra faz referência aos sons que são captados e reproduzidos diariamente por alto falantes instalados no espaço.

A obra excita nossos sentidos, a medida que caminhamos pelo labirinto branco e espiral formado pelos tecidos, a claridade turva nossa visão  e intensifica  a vibração sonora até nos sentirmos completamente integrados ao espaço.  E entre som e luz, somos transformados em notas resplandecentes de uma partitura translúcida.

Apanhadores de Almas

Exposição: Estúdio de Artes Irmãos Vargas
Local: Pinacoteca do Estado de São Paulo
Período: De 18/09/2010 a 14/11/2010


A exposição reúne setenta e cinco fotografias em preto e branco e vinte negativos de vidro, realizados entre 1912 e 1930 pelos fotógrafos Carlos e Miguel Vargas.

Em todos os trabalhos, os cenários são bastante elaborados, quase teatrais, e cada foto é retocada a lápis, técnica utilizada para aprimorar os efeitos da limitada iluminação natural.

Ao contemplarmos a obra desses artistas, temos a impressão de que seremos, a qualquer momento, abordados por alguma daquelas personagens. As lentes de Carlos e Miguel transcendem a aparência dos modelos, registram mais que imagens, revelam almas.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Sob Sombra e Luz

Exposição: Gaspar Gasparian – Um Fotógrafo
Local: Pinacoteca do Estado de São Paulo
Período: De 18/09/2010 a 14/11/2010


A exposição reúne cerca de cento e cinquenta fotografias em preto e branco, realizadas entre 1940 e 1950, além de registros pessoais e familiares.

As séries são bastante variadas, incluem naturezas-mortas, paisagens, experimentações com reflexos e vidros e estudos de formas geométricas. O alto contraste das fotografias é ainda mais valorizado pelo fundo vermelho sobre o qual estão dispostas e os jogos de sombra e luz são de uma complexidade impressionante, principalmente quando consideramos os recursos disponíveis na época.

Gaspar Gasparian não é um fotógrafo, é o fotógrafo que através de sua lente, nos conduz em um passeio à poética das mais belas imagens e nos revela detalhes possíveis apenas a atentos olhares apaixonados.

Copas da Violência

Exposição: Antonio Dias – Anywhere Is My Land
Local: Pinacoteca do Estado de São Paulo
Período: De 11/09/2010 a 07/11/2010


A exposição reúne cerca de cinquenta obras produzidas entre as décadas de 60 e 70, incluindo pinturas, desenhos, instalações e filmes.

Com uma poética violenta e contemporânea, o artista dialoga conceitos de forte carga psicológica e política como a brutalidade da guerra e o militarismo, com formas leves e lúdicas que muito lembram cartoons.

Corpos mutilados, vísceras escancaradas e crânios penetrados por pênis, misturam-se a uniformes militares, em cenários compostos por corações e cartas de baralho.

As obras nos chocam, mas também nos despertam para reflexões mais profundas sobre o lugar que ocupamos no mundo e sobre o mundo que ocupamos. Somos oprimidos ou opressores, violentados ou violentos, combatentes ou já vencidos?

Arthur Ferreira: A Tecnologia na Arte


O Artista:
Arthur Ferreira é desenhista e ilustrador, com trabalhos desenvolvidos para a Editora Moderna e diversas universidades, além de animador, criando projetos para o Animatv, Making Of Studius e outros. 


"O uso da tecnologia nas novas obras de arte marca um novo espaço de interatividade do artista com a obra."

*

> Como você lida com a integridade intelectual e criativa da sua arte, uma vez que, geralmente, suas obras são feitas sob encomenda?
Acho que lido tanto quanto os pintores antigos que vendiam suas obras para o clero, a monarquia ou a burguesia local. Deveriam ser desconsiderados os quadros ou os painéis de Michelangelo? Os retratos de Da Vinci? Eu vejo que, ao contrário disso, suas artes ficaram mais conhecidas, ganharam um espaço de admiração, onde tanto estudiosos das artes plásticas, quanto não, podiam verificar a profundidade de seus traços, suas misturas de cores e como conseguiam dar forma ao nada, bailando pincéis ao longo de quadros apoiados em cavaletes. Será que o quadro (produto) vendido não teria um valor especial, único, (seja pelo próprio sentimento do pintor, como da família a adquiri-lo) que agregaria a ele um status mais elevado, para segundo Benjamin [o filósofo Walter Benjamim], ser contemplado como arte?

> Geralmente, seus trabalhos estão sujeitos à reprodução industrial. Nesse contexto, como você compreende a materialidade de sua obra?
Eu não concebo minha possível arte de maneira material pura e simples. O resultado final é material, mas a arte, a mágica contida está dentro de um universo além da compreensão física. Simplesmente o seu valor torna-se sentimental e/ou conceitual, o que me levou a aceitar tal incumbência e quais forem as consequências de sua realização.
 
> Você acha que em função disso, o discurso de sua obra ou sua apropriação artística podem ser minimizados?
Acredito que como na história artística mundial isso sempre ficará em constante mudança. Ontem foi considerado arte, hoje não tem valor artístico criativo nenhum, amanhã mexerá com o público. A obra sempre estará sujeita a julgamentos diversos, não cabe a mim, enquanto artista, temer por isso.

> As intervenções tecnológicas nas artes tornaram-se uma prática comum, você acredita que isso pode desumanizar a figura do artista?
Ao contrário. O uso da tecnologia nas novas obras de arte marca um novo espaço de interatividade do artista com a obra, dado que o fazer artístico não se limita em suas ferramentas de trabalho. O valor humanístico da arte vem primeiramente de dentro do artista, seus conceitos, seus desamores, tudo que possa dar margem à criação, à fruição de uma nova idéia. O resultado final, seja em um quadro ou em um monitor, não deve minimizar o trabalho conceitual.

> E para finalizarmos, quais são suas considerações?
Com o tempo será possível compreender que a Arte possui diversos caminhos de execução. Que não tem limites, portanto não é regida por nenhum tipo de regra específica. Todos os meios são passíveis da criação da arte, o que diferencia (o valor no conceito industrial) é para onde esta arte é direcionada. Mas em hipótese alguma, sua concepção pode ser desvinculada da criatividade de seu fruidor. A arte sempre será para todos dispostos a mergulhar nela, e estará sempre conectada com a natureza criativa do ser humano.

Mais Arthur Ferreira em: oartanima.blogspot.com

O Amado de Deus

Filme: Amadeus
Roteiro / Direção: Peter Shaffer
Ano: 1985


A produção é uma biografia ficcional do compositor Wolfgang Amadeus Mozart, pela ótica de seu rival Antonio Salieri. A história passa-se em Viena, na corte do Imperador Joseph II da Áustria, no final do século XVIII.

Muitas obras de destaque do compositor são mencionadas e sua indiscutível genialidade é retratada de forma encantadora, principalmente nas cenas em que são mostrados seus processos de criação.

O filme define a arte como modo tão intenso de relação com o mundo, que artista e obra tornam-se um, por isso, quando Mozart preserva a pureza de sua música, preserva a si mesmo. Salieri, que jamais alcança tamanha profundidade, inveja-o porquê admira-o, e é constantemente torturado por esse conflito de sensações.

Amadeus nos mostra quão grande é nosso poder de sublimação, mesmo na qualidade de criaturinhas tão frágeis, mas acima de tudo, nos inspira na busca de uma arte íntegra e verdadeira, que além de materializar nossos sonhos, transcenda nosso universo particular, e nos torne, de fato, Humanos.

Monólogo

O que significa partir?
Separar, dividir?
É despedir quando tudo pedir pra ficar.
E ficar... só ficar.
E só, é ir.
Subjugada aos caprichos da circunstância
Perdura a ausência.
Então, a ânsia conforta-se na paciência
Que todos os dias insiste que partir não aparta,
Não mata, só dói e espera
Hoje, amanhã, depois, depois, depois...
Mas logo um serão dois
Que sempre foram parte de um
E outra vez serão dois, até que não precisem mais repartir
Mas agora, agora já é hora de ir...
E o que significa partir!

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Além do Bem e do Mal

Filme: O Fantasma da Ópera
Roteiro / Direção: Andrew Lloyd Webber e Joel Schumacher
Ano: 2004


O Fantasma da Ópera é a adaptação cinematográfica da peça musical de Andrew Lloyd Webber, baseada no romance de Gaston Leroux. Ambientado em um teatro de Paris do final do século XIX, conta a história de uma jovem soprano, Christine, com o coração dividido entre um suposto fantasma, Erick, e um visconde, Raoul.

Ambos são os extremos da mesma realidade: Christine. Seus temas musicais interligam-se, alternando entre a suavidade – Raoul – e a rigidez – Erick. Enquanto o fantasma é treva e estabelece com sua musa uma união emocional profunda, o visconde é luz, um despertar romântico adolescente. Para o primeiro, ela é a máscara pela qual ele pretende se relacionar com o mundo que o baniu, uma forma de libertá-lo da condição de monstro. Para o último é a realização de um sonho de felicidade.

Respiramos no compasso de Christine nesta ária grotesca e sublime, em que ao mesmo tempo que tememos ser aprisionados na escuridão, tememos renunciar ao seu fascínio e sermos privados de sua inspiração. E nessa tensão entre opostos, não há bem ou mal, há paixão, intensidade, exaltação e duas melodias  igualmente necessárias.

Concepção

Poema: Bom dia, poetas velhos
Autor: Paulo Leminski
Ano: 1983


“Bom dia, poetas velhos.
Me deixem na boca
o gosto de versos
mais fortes que não farei.

Dia vai vir que os saiba
tão bem que vos cite
como quem tê-los
um tanto feito também,
acredite.”


Consistente e intenso, o poema nos imprime e reimprime a experiência da fruição estética tanto ao tratá-la, quanto ao provocá-la.

Versa sobre a experimentação artística de obra aberta, que até mesmo sendo fruto de poetas velhos, é transcendental, a ponto de quando manifestada, se reestabelecer, se reinventar.

Aqui, fruir é tomar posse, é desfrutar do prazer de impregnar-se da arte que nos concede o poder criador de sempre conceber o novo.

Liberdade, Verdade, Beleza e Amor

Filme: Moulin Rouge! Amor em Vermelho
Roteiro / Direção: Baz Luhrman e Craig Pearce
Ano: 2001


Moulin Rouge! Amor em Vermelho é um musical ambientado no bairro boêmio de Montmatre, Paris, no ano de 1899. O enredo, inspirado em três óperas ("La Bohème" de Puccini; "La Traviata" de Giuseppe Verdi; e "Orphée Aux Enfers" de Jacques Offenbach), conta a história e os ideais revolucionários de um grupo de boêmios frequentadores do cabaré homônimo, através dos registros literários da paixão entre a cortesã Satine e o escritor Christian.

Diferente de outras produções do gênero, grande parte de sua trilha sonora é formada por medleys de canções famosas, o que confere alto grau de sofisticação aos arranjos que adaptam composições dos mais variados tons e gêneros.

O filme é uma experiência sinestésica, somos absorvidos. Os números dramático-musicais do cabaré são ousadia, cores e ritmo frenético de imagens harmonizado com canções, em uma atmosfera sensual e inebriante. As demais cenas são reflexos do universo de Christian e Satine, que quando se unem, concretizam a essência da boêmia: o Moulin Rouge personifica a liberdade, ele a verdade, ela a beleza, e ambos o amor, que ridiculariza qualquer tirania, inclusive a morte.

Enfim, com Moulin Rouge! Amor em Vermelho, "a coisa mais importante que se pode aprender, é amar, e em troca amado ser!"