terça-feira, 9 de novembro de 2010

Quase Soneto

Já vi os céus!
Mas não sei gritar nesse silêncio
Paciência: A ciência do agudo pesar
Fundo... Profundo...

Como gritar esse silêncio?
Fundo... Profundo
Calou minha canção, desfigurou-me a visão.
Agora ouço: “Abra seus olhos”

Nada reluz. Eu no escuro,
Procuro, só breu.
Eu só, só eu...

sábado, 2 de outubro de 2010

Até agora...

O contato com a Arte já é uma constante em minha vida há algum tempo, e embora essa experiência tenha sido intensificada depois da criação do blog, ainda sou uma criança com muito a aprender.

Estabelecer uma rotina organizou e desacelerou meu tempo, hoje tenho espaços reservados para sentir meus perfumes e refletir meu universo. Consigo enxergar, até mesmo as coisas cotidianas, de forma mais sensível e intensa.

Registrar sensações artísticas e estéticas contribuiu para que eu me libertasse, mesmo que parcialmente, do “ostracionismo” que involuntariamente me imponho. E como é bom compartilhar!

Profissionalmente, me sinto mais livre e segura para viver e criar experiências. Acredito mais tanto na minha arte, quanto na minha prática pedagógica, ambas estão mais maduras e reflexivas.

E não, mesmo com o fim do trabalho da pós-graduação não vou deixar de escrever, preciso dessas gotas de felicidade para voar...

Ainda Existe Arte?

Quando discutimos os rumos da arte, uma pergunta de fundamental importância é: ainda existe produção artística?

Vivemos a crise da “arte do conceito”, as discussões sobre definições artísticas tornaram-se um desafio até mesmo para os “especialistas” do assunto, “tudo pode” transformar-se em “arte”.

E se eu conceituar que “nada” é arte? Quem é você para dizer que não é? O que determina que o “achismo” de um é juízo e o de outro é prejuízo? A mídia, a crítica especializada? Eu posso continuar “achando nada” arte... quem tem poder sobre minha opinião? A mídia, a crítica especializada.

O Espetáculo da Vida do teatro e da televisão é arte, mas o Espetáculo da Vida da vida não é. Sendo assim, a arte amadora não é arte, porque só ama, não promove e não lucra. Quanto vou lucrar se puramente dançar? E se elevar-me, dilacerando-me sem nenhuma elevação?

A produção artística ainda caminha por aí solitária, à margem do reconhecimento, em algumas escolas, oficinas, teatros oficinas, que lutam contra a perversão transvestida de glória, e minguam a arte profissão em favor da arte vocação.

Talvez não devamos procurar palavras, talvez devamos simplesmente expressar, o gesto diz mais que mil palavras? Mais que mil sinceras palavras. A linguagem expressiva do corpo não limita, não oculta... Transmite a intensidade instintiva da comunicação, diz o indizível no silêncio da fala, auxiliada pelo ritmo e contra-ritmo da melodia. Dispensa a compreensão, para quê compreender a sensação?

Palavras de verdade plenamente comunicadas não precisam ser ditas, são propagadas pela leitura do olhar. E onde encontrar palavras de verdade? Até o Verbo se fez carne e da carne se fez lucro...

Dança Pura

Dança pura, puramente dança
Impulso que movimenta
Verdade que envolve
Essência e ação
Desejo e paixão

Dança pura, puramente dança
O instrumento entoado
Ritmo des equilibrado
Íntima inspiração
Intensa sensação

Dança pura, puramente dança
Deusa e troqueu
Jônio e Demônio
Luz e atração
Divina exaltação

Dança pura, puramente dança
Encantamento onírico
Fluxo de liberdade
Profunda expressão
Efêmera eternização

O Conceito de Forma

Artigo: Toda arte flutua num mar de palavras
Jornal: Folha de São Paulo – Ilustrada
Jornalista: Silas Martí
Data: 28/09/2010


"Acreditava que um artista devesse tentar fugir à tradição. Ser artista é fazer perguntas sobre o significado da arte e estar engajado na produção desses significados, essa deve ser a tarefa.”
Joseph Kosuth


O artista americano Joseph Kosuth, inventor da arte conceitual, repudia forma e mercado em nome das idéias. Segundo ele, os artistas formais parecem não entender às vezes que mesmo a forma pura tem significado, que não operam num vácuo, e por isso um trabalho formalista pode acabar virando uma decoração muito cara.

Contudo, o verdadeiro conceito é que a forma só deforma quando se conforma aos conformismos limítrofes. Quando não, pode alcançar o ideal, gerar discussão,  produzir sensação, tornar-se essencial  e significar.

Enfermidade da Arte

Artigo: Bienal sob censura e acusação de apologia ao terrorismo
Jornal: Folha.com – Ilustrada
Jornalista: Silas Martí
Data: 25/09/2010


"Não se pode fazer política na Bienal de política, talvez a Bienal devesse falar de decoração, seria mais sincero."
Roberto Jacoby


Duas obras já foram censuradas na Bienal deste ano, mas antes de discutir o teor político ou violento que reconhecemos nas criações de Roberto Jacoby e Gil Vicente, não deveríamos ponderar sobre o contexto que as argumentam?

Quanta violência pode incitar um autorretrato? Todos os dias não somos expostos à overdoses da mesma violência pelas novelas e telejornais?

É obvio que existem formas mais sutis, poéticas e até competentes para se expressar artisticamente, mas artistas enfermos são os reflexos de nossa sociedade medíocre.

A Denúncia das Imagens

Artigo: Harun Farocki, que está na Bienal, tem retrospectiva em SP
Jornal: Folha.com – Ilustrada
Jornalista: Silas Martí
Data: 18/09/2010


"Não são imagens, são informações dotadas de beleza não intencional nem calculada."
Narração de “Reconhecer e Perseguir” - Harun Farocki


O videoartista alemão Harun Farocki faz de sua extensa filmografia de quase cem títulos, uma dissecação da imagem. Além de estar na Bienal de São Paulo, ganhou retrospectiva no Cinusp e na Cinemateca.

Sua obra explora os mais diversos conflitos políticos que abrangem desde insurgências populares diante do discurso de um ditador, até executivos aprendendo a adequar linguagem corporal para vender melhor.

Farocki nos prova que é possível atingir o belo mesmo diante da dor, do medo, da opressão e da angústia, basta não se ocultar.